Brainstorming 2.0: turbine sua criatividade e produza mais ideias!
Você já deve ter participado de reuniões gerenciais ou reuniões de grupos de melhoria nas quais se apresenta um problema e se solicitam ideias sobre o assunto. No Brainstorming as pessoas emitem ideias livremente e sem receber questionamentos. A suposição é que o trabalho em grupo incentiva a quantidade e criatividade das soluções.
O Brainstorming foi proposto pelo norte-americano Alex Osborn em 1939 (e publicado em 1953) ao perceber que seus funcionários eram muito ruins em criar campanhas de propaganda criativas para seus clientes. Assim, ele começou a usar sessões em grupo para coletar listas de ideias sugeridas espontaneamente pelos participantes.
As evidências mostram há muito tempo que um grupo de pessoas pensando individualmente sobre soluções para depois combinar suas ideias é mais produtivo do que ter as mesmas pessoas gerando ideias como um grupo. Uma das explicações é que as pessoas ficam aflitas de introduzir ideias radicais ou controversas em um grupo e não as apresentam. Há diversos artigos – um deles do autor do livro “Sprint” (Jake Knapp), que apareceram em publicações tais como Time, Washington Post, New Yorker, Forbes, CNBC, Fast Company, Harvard Business Review, dentre outras.
Em 2008, Knapp trabalhando no Google Venture (aceleradora de startups) revisou os resultados de diversos eventos que havia realizado, usando brainstorming. Os resultados foram deprimentes. Nem uma única ideia nova gerada nos brainstorms tinha sido construída ou lançada. As melhores ideias – as soluções que as equipes realmente executaram – vieram do trabalho individual.
Rochelle Bailis (2014) menciona estudos que mostram que muitos participantes de uma sessão de brainstorming, consciente ou inconscientemente, sentem-se pressionados a seguir a ideia ou padrão de pensamento dominante. Esta tendência psicológica, chamada fixação colaborativa, leva inerentemente à conformidade de ideias e reduz a possibilidade de soluções originais.
Stephen Robbins (2006) destaca que “as pessoas se esforçam menos quando trabalham em equipe do que sozinhas”. Em outras palavras, quanto mais pessoas estiverem em um grupo de brainstorming, menos sugestões farão para resolver o problema em questão.
O brainstorming também pode introduzir barreiras ao pensamento, uma vez que a pessoa que fala primeiro ou que fala com maior ênfase, geralmente “serve como ponto de referência”. Consequentemente, as demais pessoas estarão inclinadas a alterar as suas ideias com base no que essa pessoa diz.
Taylor et al (1958) conceberam uma experiência para responder à pergunta “A participação em grupo ao usar o brainstorming facilita ou inibe o pensamento criativo?”. Três problemas foram apresentados para noventa e seis pessoas. Quarenta e oito pessoas foram distribuídas em doze grupos de quatro pessoas e quarenta e oito pessoas atuaram individualmente. Para resumir, os três problemas foram chamados de “Problema dos Turistas”, “Problema dos Polegares” e “Problema dos Maestros”.
Após a conclusão do experimento, uma tabela de números aleatórios foi usada para distribuir as quarenta e oito pessoas, que atuaram individualmente, em doze grupos nominais de quatro pessoas cada. O desempenho de cada grupo nominal foi então pontuado como se seus membros tivessem realmente trabalhado juntos. A realização destes grupos nominais forneceu assim uma medida do desempenho que seria de esperar se a participação do grupo não facilitasse nem inibisse o pensamento criativo. O processo utilizado está ilustrado na figura abaixo.
Quando comparado com os doze grupos nominais, o desempenho dos doze grupos reais foi marcadamente inferior no que diz respeito a:
a) Número médio total de ideias produzidas. Os grupos nominais (indivíduos que trabalharam sozinhos) produziram entre 76% a 95% mais ideias que os grupos reais para os três tipos de problemas.
b) Número médio de ideias criativas produzidas. Os grupos nominais produziram entre 59% a 140% mais ideias criativas que os grupos reais para os três tipos de problemas.
c) Três medidas diferentes (Viabilidade, Eficácia e Generalidade) foram utilizadas para avaliar a qualidade das ideias produzidas. Novamente, o desempenho dos grupos nominais foi marcadamente superior.
A comparação dos gráficos das figuras dos itens a e b sugere que a diferença entre os grupos nominais e reais no número de respostas criativas pode resultar simplesmente da diferença entre os números totais de respostas. Em outras palavras, os grupos nominais produzem mais respostas criativas apenas porque produzem mais respostas. Para testar essa hipótese, o autor usou o método de análise de covariância, tendo como variável de controle o número de respostas a cada problema.
As análises de covariância mostraram que, após ajuste para diferenças no número total de respostas, não há diferença significativa entre grupos reais e nominais no número de respostas criativas.
Chega-se à mesma conclusão quando se analisam os gráficos das medidas de Viabilidade, Eficácia e Generalidade, ou seja, há mais respostas viáveis, eficazes e gerais nos grupos nominais, simplesmente porque há mais respostas em total.
Ou seja, quando os participantes trabalham individualmente geram mais ideias que os grupos nominais. Essa maior geração de ideias favorece o surgimento de boas ideias. A constatação que o Brainstorming não funciona como esperado leva à seguinte questão: o que fazer? Uma alternativa é a Técnica de Grupo Nominal.
Técnica de Grupo Nominal
A Técnica de Grupo Nominal (Delbecq and Van De Vem, 1971) é uma metodologia de pesquisa que permite a geração e priorização de ideias de forma estruturada e democrática. Ela é utilizada para explorar temas, resolver problemas, tomar decisões e planejar. Foi desenvolvida por cientistas sociais e tem como principal vantagem dar a todos os participantes uma oportunidade igual de contribuir. Variantes desta técnica são utilizadas na técnica Design Sprint de Knapp et al (2017). Os passos da técnica estão a seguir:
1) Introdução e explicação: O coordenador recebe os participantes e explica o objetivo.
2) Geração de ideias silenciosas: Os participantes trabalham de forma independente para gerar ideias (podem escrever, usar desenhos, etc.)
3) Partilha de ideias: Os membros da equipe apresentam suas ideias com toda a equipe.
4) Discussão das ideias: Os membros podem fazer perguntas para esclarecer as ideias. É importante que o processo seja tão neutro quanto possível, evitando julgamentos e críticas. O grupo pode sugerir novas ideias e combinar ideias por afinidade.
5) Votação e priorização: Os membros da equipe recebem certo número de votos (de 2-5) para votar nas ideias que consideram as melhores ou mais relevantes. Esta etapa ajuda a priorizar ideias e identificar as mais populares ou úteis.
6) Discussão final: A equipe refina e esclarece as ideias mais bem avaliadas. Em seguida, chega-se a um acordo sobre a solução ou ação mais eficaz.
Conclusões
As evidências que se acumulam de diversas fontes e a experiência do autor deste artigo permitem concluir que o formato tradicional do brainstorming de expor ideias oralmente e em grupo inibe as pessoas e reduz a eficácia dos times de melhoria. A técnica de grupo nominal permite gerar mais ideias – e daí mais ideias criativas – e também selecionar as ideias que, não visão do grupo, têm maiores chances de resolver o problema proposto.
Referências
- Adam Grant (2023). Why Brainstorming Doesn’t Work. Time. https://time.com/6327515/brainstorming-doesnt-work-essay/
- Andre L. Delbecq and Andrew H Van De Ven (1971). A Group Process Model for Problem Identification and Program Planning. The Journal of Applied Behavioral Science 7(4):466-492.
- Alex Osborn (1953). Applied Imagination: Principles and Procedures of Creative Problem Solving. New York, New York: Charles Scribner’s Sons.
- Ashton Jackson (2023). Ivy League expert: Brainstorming doesn’t work-here’s a better way to find new ideas. CNBC. https://www.cnbc.com/2023/05/12/ivy-league-expert-brainstorming-doesnt-work-what-she-does-instead.html
- Debra Kaye (2013). Why Innovation By Brainstorming Doesn’t Work. FastCompany. https://www.fastcompany.com/3006322/why-innovation-brainstorming-doesnt-work
- Donald W. Taylor, Paul C. Berry and Clifford H. Block (1958). Does Group Participation When Using Brainstorming Facilitate or Inhibit Creative Thinking? Administrative Science Quarterly, Vol. 3, No. 1, pp. 23-47.
- Jake Knapp (2022). Esqueça o brainstorm, faça Design Sprint. https://www.designsprint.com.br/artigos/esque%C3%A7a-o-brainstorm-fa%C3%A7a-design-sprint
- Jake Knapp, John Zeratsky e Braden KowitSprint (2017). O método usado no Google para testar e aplicar novas ideias em apenas cinco dias. Editora: Intrínseca.
- Jena McGregor (2011). Why brainstorming doesn’t work. The Washington Post.
https://www.washingtonpost.com/blogs/post-leadership/post/why-brainstorming-doesnt-work/2011/04/01/gIQAock7cM_blog.html - Jonah Lehrer (2012). Groupthink. The New Yorker https://www.newyorker.com/magazine/2012/01/30/groupthink
- Michael Diehl and Wolfgang Stroebe (1987). Productivity Loss in Brainstorming Groups: Toward the Solution of a Riddle. Journal of Personality and Social Psychology, Vol 53, No 3 497-509.
- Rochelle Bailis (2014). Brainstorming Doesn’t Work-Do This Instead. Forbes. https://www.forbes.com/sites/rochellebailis/2014/10/08/brainstorming-doesnt-work-do-this-instead/
- Rebecca Greenfield (2014). Brainstorming Doesn’t Work. Try This Technique Instead. FastCompany. https://www.fastcompany.com/3033567/brainstorming-doesnt-work-try-this-technique-instead/
- Stephen Robbins (2006). Comportamento Organizacional. Ed. Prentice Hall.
- Tony McCaffrey (2014). BrainSwarming: Because Brainstorming Doesn’t Work. Harvard Business Review. https://hbr.org/2014/06/brainswarming-because-brainstorming-doesnt-work
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